domingo, 10 de fevereiro de 2008

Nosso Notável Nagarjuna

Os praticantes da HBS fazem uma “Oração de Gratidão”, por sinal muito bonita, que em certo trecho, faz uma referência ao “Bossatsu Ryujuu”, trata-se, na verdade, do Bodhisatva e Grande Mestre Nagarjuna. Ryujuu é a forma carinhosa como os japoneses chamam este iluminado ser.

Nagarjuna influenciou todo o Budismo Mahayana, o Grande Veículo, em especial o pensamento, a vida e a obra de nosso querido Patriarca Nichiren.

Vejamos alguns trechos de autoria do especialista francês em estudos asiáticos, Jean-Michel Varene, no livro O Zen, publicado em 1986, pela editora Martins Fontes:

“Nagarjuna é o fundador de uma escola mahayanista (Madhyamika ou “Escola do Meio”) cuja repercussão foi imensa tanto para o pensamento búdico como para a totalidade da metafísica indiana (sua influência sobre Shankara e o Vedanta é, hoje, admitida por inúmeros pesquisadores).

“Nascido por volta do século II ou III de nossa era, Nagarjuna revolucionou os dados especulativos do budismo. Não se contentando em aprofundar a noção de vacuidade universal, resolveu todas as contradições graças a um talento dialético excepcional, chegando a preceituar a identidade lógica dos contrários (a célebre coincidentia oppositorum dos sábios cristãos medievais Mestre Eckhart e Nicolau de Cusa).

“Sua imensa obra (infelizmente pouco traduzida) é coroada por um longo comentário em verso (25 mil estrofes) do Prajnaparamita.

“O Madhyamika propõe uma via intermediária, resolvendo as tensões entre o realismo (a crença na existência dos fenômenos) e o niilismo (a crença no nada).

“Nagarjuna e seus discípulos não se contentaram em enunciar verdades dogmáticas ou conceituais, recorreram a uma prática dialética e contemplativa.

“A escola de Nagarjuna preceitua uma ciência dialética operacional destinada a purificar a mente, a desmontar seus andaimes intelectuais, a pulverizar as superimposições que velam a percepção da verdade.

“O Madhyamika pulveriza os temais fundamentais do budismo clássico.

“As Quatro Nobres Verdades proclamadas pelo próprio Buda não têm propriedade congênita, e, em conseqüência, invocá-las é tão absurdo como negá-las.

“A lógica iconoclasta de Nagarjuna coloca certas questões cruciais à ortodoxia búdica:

“- Já que não existe nenhuma diferença entre Nirvana e Samsara, como distinguir o “desperto” da pessoa ainda “presa” aos fenômenos?

“O Nirvana não passa de uma construção suplementar da mente, ou, se preferirmos, de um refinamento do espírito.

“Empenhado em podar as pseudocertezas espirituais em que se fundara o ensino tradicional, o Madhyamika traz sangue novo, vivificante, à prática pedagógica búdica”. (págs. 41 a 43).

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