sábado, 4 de outubro de 2008

O Nariz do Morto

Adote Uma Árvore
Santa Teresa, set/08 – Ano II – nº 15.
antoniocpbr@click21.com.br
http://budismoprimordialrio.blogspot.com
Antonio Carlos Rocha (professor)
Editorial:
O Nariz do Morto

Sempre que os dois últimos bondes passam eu lembro do meu caro amigo, falecido e consagrado escritor Antonio Carlos Villaça. No céu, onde se encontra, ele deve estar muito chateado com o atual estado, desmantelado, em que se encontra o sistema de bondes de Santa Teresa, cada vez mais sem manutenção.
O título acima “O Nariz do Morto” é o título de um romance de sua autoria, um dos grandes momentos da Literatura Brasileira, recomendo; procure nos sebos, navegue na internet. O bonde social está morrendo e eu lembro do livro do Villaça.
Tive a grata satisfação de conhecê-lo nos anos 80, ele morava no Hotel Bela Vista (correm rumores: parece que será vendido ou algo semelhante). O quarto era entulhado de livros, uma cama de solteiro, uma mesinha onde ele escrevia na antiga máquina de datilografia. Era também jornalista e um dos diretores do IHGB – Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro; vez por outra me convidava para as palestras e solenidades.
Mas havia um item que muito aproximava a nossa amizade. Villaça era uma espécie de monge beneditino leigo. Chegou a viver na clausura, lá no belíssimo convento de São Bento, nas cercanias da Praça Mauá, mas depois optou por viver fora do convento, o seu quarto era uma verdadeira cela religiosa, vestia-se sempre com o paletó preto e gravata, semelhante aos monges na clausura, cujos hábitos são da mesma cor.
Villaça me chamava de “xará budista” conhecia e lia os meus livros sobre Budismo. Algumas vezes mostrei a ele os originais e ele sugeria algo. Até me deu muita força e apoiou em um lançamento que fiz na Tijuca.
Tempos depois, ele foi morar, de graça, em um quartinho na sede do Pen Club, na Praia do Flamengo. Parabéns e reverências aos caridosos e generosos diretores da instituição, que entendiam, respeitavam e admiravam o monge leigo Villaça. Era um ermitão em uma caverna de livros, era um asceta da leitura, um anacoreta da cultura.
Assim que se mudou, ele me telefonou e fui lá visitá-lo. Contou que havia uma surpresa e eu ia ficar maravilhado. De fato, na sede do Pen Club tinha um belíssimo altar-oratório budista, em madeira de lei, tipo um armário (guarda-roupa de duas portas) de antigamente.
Por essas e por outras, quando o agonizante bonde social passa eu olho o farol do bondinho e vejo naquela única lâmpada, O Nariz do Morto.
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* “Adote Uma Árvore” é um boletim ecológico-holístico mensal, artesanal, virtual e impresso. Edições anteriores veja no blog acima citado.

* Se você concordar, pode tirar cópias e passar adiante. Obrigado !

* Mantenha a cidade limpa e o seu bairro também. Não jogue esta folha no chão. Se não quiser deixe em uma banca de jornal. Peça ao jornaleiro, sempre vai aparecer alguém interessado.

* Entre, visite e conheça a Amast – Associação de Moradores e Amigos de Santa Teresa: www.amast.org.br

* Oração da Serenidade: “Concedei-me Senhor*, a Serenidade necessária para aceitar as coisas que não posso modificar. Coragem para modificar aquelas que posso e Sabedoria para distinguir uma da outra”.

(*) Poder Superior, na forma em que cada um concebe: Alá, Buda, Cristo, Deus, Ecossistema, Natureza, Vida etc.

* Inicie e termine o seu dia, a sua reunião, a sua conversa, o seu trabalho com a Oração da Serenidade.

* Parabéns à nova diretoria da Amast, eleita no último dia 31/08/2008, para o biênio 2008/2010.

* Agradecimentos à Reverenda Inamar, da Igreja Anglicana São Paulo Apóstolo de Santa Teresa que, democraticamente, sempre cede as instalações para assembléias da Amast.

* Todo sábado, nessa mesma Igreja, pela manhã, a Rede Ecológica se reúne para a feirinha de produtos orgânicos e naturalistas. Os interessados devem se cadastrar.

* A maniFESTAção que ocorreu no último dia 06/09/2008, no Largo do Guimarães, em comemoração aos 112 anos do bondinho reuniu cerca de 700 pessoas, segundo o JB on line. Serviu para mostrar, de forma criativa, a insatisfação da população com a ameaça de privatização do sistema de bondes. Várias faixas foram afixadas em diversos pontos de Santa Teresa. Os blocos de carnaval, cantores, músicos, artistas e público em geral deram o recado apoiando o bonde social.

* Este boletim e o blog acima integram a Rede Brasileira de Budistas Engajados, movimento que representa em nosso país, uma organização que está presente em diversas nações e tem por finalidade praticar o Budismo Social, um budismo politicamente correto, atual, ecológico, pacifista, seguindo a linha de Não-Violência ensinada pelo Buda, no século VI aC e por Gandhi, no século XX: Acesse: http://budistasengajados.blogspot.com de lá você encontra links para todo o mundo. INEB – International Network of Engaged Buddhists. Este movimento foi criado pelo monge vietnamita Thich Nhat Hanh, que se notabilizou durante a Guerra do Vietnã contra a invasão norte-americana e foi indicado para o Prêmio Nobel da Paz por Martin Luther King. Thich Nhat Hanh vive hoje na França, tem mais de 70 anos e em um de seus vários livros publicados no Brasil afirma que “Budismo é engajado; se não é engajado, não é Budismo”.

* É uma pena que as autoridades estaduais estejam insensíveis às sugestões da Amast e dos moradores em geral de Santa Teresa quanto à manutenção do Bonde Social. Democraticamente falando, é claro que existem moradores que são a favor do Bonde Elitizado. Seria interessante então, as autoridades competentes promoverem um plebiscito no bairro de forma bem transparente. E seria respeitada a vontade da maioria. O que, infelizmente estamos presenciando é o sucateamento de dois bondes que estão em circulação. Ao andarmos no bondinho, os passageiros percebem claramente os solavancos e a falta de cuidado e manutenção.

* Esta idéia de maniFESTAção foi muito boa ! A pessoa protesta e se diverte, pacificamente, conforme Gandhi, Buda e tantos outros ensinaram.

* Pela sua importância no âmbito da Literatura Brasileira, O Nariz do Morto merece ser adaptado para a TV ou cinema. Fica a sugestão.

* Defender o bondinho social também é Ecologia; ele não polui, é prático para o bairro e há 112 tem comprovado que é bom de ladeira, tanto na subida quanto na descida. Já o tal VLT, em estudos, ainda não disse a que veio. Uns chamam de veletê, outros de frankstein, contudo, há quem decifre a sigla Vamos Levar Trombada. E olha que já houve acidente.

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