O Gavião e a Pomba
Rola
(Histórias que contam
do monge peregrino Ibaragui, primeiro sacerdote que divulgou o Budismo no
Brasil)
Conta-se que por volta
de 1950 o Monge Ibaragui caminhava por uma estrada batida de terra, indo em
direção a Lins, SP. Já perto da cidade, onde o caminho fazia uma curva e o
espaço era mais aberto, uma Pomba Rola pousou em sua frente. A pequena ave
parecia estar exausta e muito assustada, e sem a menor cerimônia foi logo
explicando seu drama, falando muito rápido e tropeçando nas palavras:
--- Ibaragui,
“pelamordideus” me ajuda. O Gavião Carijó quer me comer.
Disse a ave e foi logo
pulando no peito do Monge e se enfiando para dentro do paletó dele. Mal acabara
de se esconder, o Gavião “aterrisou” na frente do Missionário com cara de
poucos amigos, e foi direto ao assunto falando desafiadoramente:
---Devolva a minha
presa, Ibaragui, você a aprisionou.
Ibaragui tentou
argumentar, procurando ganhar algum tempo e enrolar o Gavião:
---Presa,
aprisionar... quão tristes soam estas palavras aos meus ouvidos, oh nobre ave
de rapina...
Mas o Gavião não era
bobo nem nada, e disparou contra o Monge:
---Sem filosofia
budista e sem bajulação, como fazem os outros humanos teus irmãos. A Pomba é
minha. Eu a estou perseguindo faz mais de 2 horas. Ela já estava sem forças para
voar, e você tá querendo me enrolar, Ibaragui.
O Mestre percebeu logo
que com aquela ave não haveria diálogo e resolveu engrossar:
---Não te darei a
Rola, gavião. Ela é minha agora e eu sou o seu refúgio. A vida dela neste
momento está em minhas mãos. Ela me solicitou ajuda e se acolheu em meu peito.
E completou, serenamente:
Portanto vamos resolver esta questão de forma
civilizada, com um diálogo franco, pois nós três temos um problema para ser
resolvido.
---Só me faltava esta;
um budista metido a protetor de pombas – lamentou o Gavião.
---Ibaragui, olhe bem
para minhas penas. Eu sou uma ave, um Gavião. Minha natureza é caçar e meus
antepassados comiam Pombas Rolas desde que o mundo é mundo e você está com meu
almoço dentro do teu paletó.
---Espere! Veja bem
Carijó. Esta avezinha não pesa nem 50 gramas. Eu vou até a cidade e na volta me
comprometo a te trazer um bife suculento e macio de quase meio quilo.
---Nada feito. Então
eu quero um frango inteiro quando você voltar... respondeu o Gavião. Ibaragui
resolveu concordar para salvar a vida da avezinha, mas o Gavião começou a
exigir um frango vivo.
---Ora essa, Gavião.
Isso seria trocar 6 por meia dúzia. Você mataria o Frango para comer e eu seria
o carrasco, respondeu o Mestre.
Depois de muito
negociar Ibaragui conseguiu convencer o Gavião a aceitar um quilo de sardinhas,
e deixar a Pomba Rola em
paz.
Em Lins, Ibaragui foi na Peixaria Atlântica, comprou o
quilo de sardinha para o Gavião Carijó e ficou tudo resolvido.
O fato curioso é que
na cidade as pessoas viam um japonês andando pelas ruas com uma Pomba Rola
encarapitada em seu ombro, e ele conversava com a Pomba em japonês, o que
deixava as pessoas mais encabuladas ainda. A Pomba Rola nunca mais largou do
Monge Ibaragui, e as crias de Pombas Rolas que hoje sobrevoam o Templo
Taissenji aqui em Lins são ancestrais diretas daquela pequena Pomba Rola salva
pelo Monge Ubaragui naquela estradinha de terra batida, que vinha de Guaiçara
para Lins.
Esta estradinha de
terra batida em que o Mestre Ibaragui tantas vezes caminhou indo ou vindo de
Guaiçara para Lins, existe até hoje e segue serpenteando pelo mato, próxima a
moderna via asfaltada construída posteriormente.
(Toninho Claro - Lins,
SP) é um sr. com 75 anos de idade que nos enviou esta história e outra que
iremos publicar mais adiante.
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