sábado, 15 de agosto de 2015

Literatura Oral Primordial



O Gavião e a Pomba Rola


(Histórias que contam do monge peregrino Ibaragui, primeiro sacerdote que divulgou o Budismo no Brasil) 


Conta-se que por volta de 1950 o Monge Ibaragui caminhava por uma estrada batida de terra, indo em direção a Lins, SP. Já perto da cidade, onde o caminho fazia uma curva e o espaço era mais aberto, uma Pomba Rola pousou em sua frente. A pequena ave parecia estar exausta e muito assustada, e sem a menor cerimônia foi logo explicando seu drama, falando muito rápido e tropeçando nas palavras:

--- Ibaragui, “pelamordideus” me ajuda. O Gavião Carijó quer me comer. 

Disse a ave e foi logo pulando no peito do Monge e se enfiando para dentro do paletó dele. Mal acabara de se esconder, o Gavião “aterrisou” na frente do Missionário com cara de poucos amigos, e foi direto ao assunto falando desafiadoramente: 

---Devolva a minha presa, Ibaragui, você a aprisionou.
Ibaragui tentou argumentar, procurando ganhar algum tempo e enrolar o Gavião: 

---Presa, aprisionar... quão tristes soam estas palavras aos meus ouvidos, oh nobre ave de rapina... 

Mas o Gavião não era bobo nem nada, e disparou contra o Monge: 

---Sem filosofia budista e sem bajulação, como fazem os outros humanos teus irmãos. A Pomba é minha. Eu a estou perseguindo faz mais de 2 horas. Ela já estava sem forças para voar, e você tá querendo me enrolar, Ibaragui. 

O Mestre percebeu logo que com aquela ave não haveria diálogo e resolveu engrossar: 

---Não te darei a Rola, gavião. Ela é minha agora e eu sou o seu refúgio. A vida dela neste momento está em minhas mãos. Ela me solicitou ajuda e se acolheu em meu peito. E completou, serenamente:

Portanto vamos resolver esta questão de forma civilizada, com um diálogo franco, pois nós três temos um problema para ser resolvido. 

---Só me faltava esta; um budista metido a protetor de pombas – lamentou o Gavião. 

---Ibaragui, olhe bem para minhas penas. Eu sou uma ave, um Gavião. Minha natureza é caçar e meus antepassados comiam Pombas Rolas desde que o mundo é mundo e você está com meu almoço dentro do teu paletó. 

---Espere! Veja bem Carijó. Esta avezinha não pesa nem 50 gramas. Eu vou até a cidade e na volta me comprometo a te trazer um bife suculento e macio de quase meio quilo. 

---Nada feito. Então eu quero um frango inteiro quando você voltar... respondeu o Gavião. Ibaragui resolveu concordar para salvar a vida da avezinha, mas o Gavião começou a exigir um frango vivo. 

---Ora essa, Gavião. Isso seria trocar 6 por meia dúzia. Você mataria o Frango para comer e eu seria o carrasco, respondeu o Mestre. 

Depois de muito negociar Ibaragui conseguiu convencer o Gavião a aceitar um quilo de sardinhas, e deixar a Pomba Rola em paz. 

Em Lins, Ibaragui foi na Peixaria Atlântica, comprou o quilo de sardinha para o Gavião Carijó e ficou tudo resolvido.

O fato curioso é que na cidade as pessoas viam um japonês andando pelas ruas com uma Pomba Rola encarapitada em seu ombro, e ele conversava com a Pomba em japonês, o que deixava as pessoas mais encabuladas ainda. A Pomba Rola nunca mais largou do Monge Ibaragui, e as crias de Pombas Rolas que hoje sobrevoam o Templo Taissenji aqui em Lins são ancestrais diretas daquela pequena Pomba Rola salva pelo Monge Ubaragui naquela estradinha de terra batida, que vinha de Guaiçara para Lins. 

Esta estradinha de terra batida em que o Mestre Ibaragui tantas vezes caminhou indo ou vindo de Guaiçara para Lins, existe até hoje e segue serpenteando pelo mato, próxima a moderna via asfaltada construída posteriormente. 

(Toninho Claro - Lins, SP) é um sr. com 75 anos de idade que nos enviou esta história e outra que iremos publicar mais adiante.


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