sábado, 25 de julho de 2009

O Equívoco de Kardec

Claro que, democraticamente, aceito e respeito a opinião de Kardec, mas budisticamente, discordo, pois no texto abaixo, vamos ver que ele reproduziu um preconceito de sua época sobre o Budismo, preconceito esse, infelizmente, que persiste até hoje. Felizmente, aos poucos, bem demoradamente, está mudando este preconceito.

Allan Kardec (1804-1869), o grande codificador do Espiritismo, a quem muito admiro, foi um excelente pedagogo. Mas, lamentavelmente, em seu livro Obras Póstumas, editora Ide, 2004, página 209 ele diz no capítulo A Vida Futura:

“Se os felizes nada tem a fazer, a ociosidade perpétua, em lugar de uma recompensa, torna-se suplício, a menos que se admita o Nirvana do Budismo, que não é muito invejável”.

O ilustre professor, sem conhecimento de causa do Budismo, parece repetir algo sem ter muito se inteirado da situação. Ele está falando de vida após a morte e, portanto, fala de Nirvana, mas reproduz uma idéia bastante equivocada de que Nirvana é niilismo, é não fazer nada. Essa idéia é uma interpretação equivocada que o filósofo Schopenhauer fez do Budismo e se espalhou por toda a Europa.

Pegando-se as principais idéias do Budismo Theravada pode-se, equivocadamente, fazer esta leitura niilista, mas isso não é o ensinamento de Sidarta. Até entendemos o equívoco de Schopenhauer, um europeu frio e distante que interpretou negativamente o Darma. O filósofo conhecia superficialmente alguns livros canônicos sobre o Darma. Ele não tinha prática de meditação, era só teoria. Ele pode até, ter agido de má fé. Ideologicamente talvez, tenha pensado em prejudicar o Budismo e, de fato, prejudicou. É por isso que, ainda hoje, muita gente boa confunde Budismo com alheamento do mundo, com alienação, com indiferença, com ceticismo.

Faço minhas as sábias palavras do Venerável Hsing Yun em seu livro A Essência do Budismo, publicado pelo Templo Zu Lai, de Cotia, SP, página 28: “Na história do Budismo houve muitos casos em que o sentido dos ensinamentos de Buda foi mal interpretado por causa de traduções incorretas. Esses erros tornaram-se obstáculos na difusão do Budismo”.

Em tempo, sobre Kardec, conheço bem toda a sua obra: nasci e me criei em lar espírita. Meu pai era fundador e presidente de uma casa espírita; minha mãe era professora de crianças na escolinha dominical. Quando adolescente, em 1970, fui secretário da Mocidade no Centro Espírita Emmanuel, na cidade satélite do Gama, DF. Logo, o que escrevi acima sobre o codificador da Doutrina Espírita é com todo o respeito.

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