sexta-feira, 5 de outubro de 2007

Um raro texto de U Ba Khin*

“Samádhi (concentração) é um modo de treinar a mente para que se adquira sossego, pureza e vigor, e é por esse método que se constitui a essência da vida religiosa...

É, na realidade, o grande denominador comum de todas as religiões. A menos que uma pessoa consiga limpar sua mente de contaminações e levá-la a um estado de pureza, como poderá identificar-se com Brahma, ou com Deus?

Se bem que diversas religiões empreguem distintos métodos para o cultivo da mente, o fim é sempre o mesmo: um perfeito estado de sossego físico e mental.

Ao estudante que vem ao Centro a prática lhe ajuda a cultivar o seu poder de concentração até que consiga manter a mente bem fixa no objeto desejado.

Para este efeito, a prática recomenda fixar a atenção em um ponto do lábio superior, imediatamente debaixo do nariz, sincronizando com o movimento do ar que entra e sai pelas narinas; ao respirar ocorre a tomada de consciência silenciosa e completa de cada inspiração e expiração...

Esta técnica de meditação anapana (atenção na respiração) que se pratica no Centro tem uma grande vantagem, pois a respiração é um processo não só natural, mas sim também incessante, de modo que está sempre disponível a atenção em todo momento em que se deseje fixar a atenção através desse método, com exclusão de todo pensamento intruso.

Fazendo um esforço decidido para ir limitando a atividade mental, primeiro à região adjacente ao nariz, mediante a atenção da respiração naquela área, e logo depois – ao ir se tornando cada vez mais suave a respiração – e concentrando a atenção em um só ponto do lábio superior, onde se percebe a temperatura do ar respirado; um bom estudante de meditação, isto é, aplicado e dedicado vai conseguir a concentração fixa da mente em uns poucos dias de exercício” (in Os Valores Reais da Verdadeira Meditação Budista, págs. 5 e 6).

- citado por Eric Lerner no livro “El Budismo Viviente”, de Ramiro A. Calle, Ediciones Cedel, Barcelona, 1984, págs. 137 e 138.

(*) U Ba Khin (1899-1971) foi um grande mestre leigo de Meditação Vipássana, na antiga Birmânia (Mianmar). Treinou centenas de ocidentais e, entre estes, autorizou os seguintes discípulos, também leigos, a continuarem a sua obra: S. N. Goenka, na Índia; Robert Hover e Ruth Denison, nos EUA; John Coleman, na Inglaterra.

Nosso blog de estudos, aos poucos, irá traduzindo os importantes textos de U Ba Khin e de Goenkaji, a partir do livro acima citado.

Recomendamos também “La Vipassana: El arte de la meditación budista”, de William Hart, publicado pela Edaf/Nueva Era, Madrid, 1994.

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