domingo, 29 de março de 2009

O Budismo e a Revolução Chinesa

Os trechos abaixo são do livro Alternativas Socialistas – Religiões e Socialismo, editora Arcádia, Lisboa, 1975. O autor é o conhecido escritor e filósofo Roger Garaudy, professor da Universidade de Sorbone, nesta época, ele era membro do Comitê Central do Partido Comunista Francês:

“Quando o Partido Comunista Chinês começou a sua luta pelo socialismo, e depois pela construção do socialismo, teve que agir num povo imenso formado pela cultura e tradições do budismo, implantado na China há mais de milênio e meio.

“Desde 1930, desenvolveu-se um verdadeiro sincretismo budista-marxista em vários países asiáticos.

“Quando se andava no caminho da virtude, o mundo era uma comunidade. As pessoas detestavam o desperdício dos bens, mas nem por isso os açambarcavam. Gostavam de trabalhar com todas as suas forças, mas nem por isso procuravam um lucro privado. (Li-Chi, Livro dos Ritos).

“Mão Tsé-Tung, filho de uma budista piedosa, sublinhou por várias vezes que a missão histórica do comunismo chinês era realizar as velhas utopias que, de século em século, haviam sublevado os camponeses chineses.

“Socialismo búdico. Na tradição búdica de condenação das riquezas e de compaixão por toda criatura viva, fundar-se-ão os movimentos igualitários, acentuando os aspectos messiânicos do budismo, particularmente o Mi-lo-fu, cujo advento deve abrir uma era de justiça e de plenitude humana.

“Esta rica tradição igualitária e utópica (...) paralelamente as revoltas dos rurais chineses apelam para o messianismo budista (...) particularmente o Reino Celeste da Grande Harmonia.

“De modo geral, até à revolução cultural, a política do Partido Comunista Chinês consistiu em proteger o budismo, favorecendo a mutação que nele se operava.

“(...) a revolução chinesa, desde o seu programa de 29 de setembro de 1949, garantia, pelo seu artigo 5, a liberdade de crença religiosa. Durante a reforma agrária de 1950, foi proibido danificar mosteiros. Foram dadas diretivas para a proteção dos edifícios e das obras de arte, que eram os testemunhos de uma grande tradição cultural chinesa.

“Em 1957, o chefe da delegação budista japonesa fazia esta declaração comedida: O budismo está vivo na China... Ao contrário das autoridades soviéticas que tem por política suprimir a religião, o governo chinês... reconstruiu os templos... Sem dúvida que os comunistas não reconheciam a necessidade de religião. O fato de protegerem o budismo não significa que encoragem o culto budista. O regime esforça-se apenas por preservar os tesouros da cultura nacional. Todavia, preservando-os, em vez de os ignorar, a fé permanece viva.

“o Estado subvencionou a restauração, entre 1951 e 1958 de uma centena de mosteiros e pagodes (...) a partir de 1961, o seminário budista de Pequim, aberto em 1956, desenvolveu novas direções com cursos fundamentais sobre a doutrina, a história e a arte budistas.

“O número de monges e de religiosas budistas, que era cerca de 500 mil, em 1950, continuou com o mesmo número em 1958, e a baixa que se manifestou a partir de então, não poderá ser atribuída a uma perseguição. Em França o número de vocações religiosas diminuiu vertiginosamente e seria difícil atribuir esse fenômeno a uma pressão governamental.

“A Revolução Chinesa ajudou o budismo a efetuar a mudança que ele procurava as cegas, desde o início do século XX: conservar as suas virtudes de desprendimento adquirindo as virtudes de enraizamento no trabalho e no esforço de transformação do mundo.

“o budismo, com todas as grandes tradições da cultura chinesa permitiu ao marxismo efetuar uma escolha radicalmente distinta das sociedades ocidentais”.

(páginas 83 a 96 do citado livro).

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