terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Uma Igreja Budista

“Nossa próxima parada era na sede mundial da Rissho Kosei-Kai, um novo budismo que as seitas mais tradicionais chamam de “nova organização religiosa”. Fundada em 1938 com base nos ensinamentos do Buda e no Sutra Lótus do budismo, afirma ter preponderância sobre 1,8 milhão de lares no Japão. Uma diferença é que é uma organização leiga, num esforço para evitar a hierarquia institucional que invalidou as seitas tradicionais, de acordo com o seu fundador. Outra é que trata dos problemas do mundo. Os membros se abstêm de fazer duas refeições por mês para doar esse dinheiro para o Fundo da Paz Rissho Kosei-Kai que, por sua vez, sustenta novecentos programas pela paz, pelo desenvolvimento econômico, pelos refugiados, contra a fome e outros serviços sociais em todo o mundo. A organização incentiva campanhas para enviar cobertores para a África e uma campanha visando às crianças que envia sacolas com brinquedos artesanais e cartões com mensagens pessoais. A Rissho Kosei-Kai deu cerca de 60 milhões de dólares para a UNICEF em 25 anos.

“Quando chegamos fui conhecer o extenso complexo. Esse novo budismo japonês tira sua inspiração do Ocidente, isso ficou bem claro para mim. O “templo” agora é chamado de “igreja”. A igreja tem um órgão gigantesco. O nome de Buda em sânscrito está escrito no alto, em coloridos vitrais. Meus anfitriões explicaram que a inspiração arquitetônica do fundador se baseava nas igrejas católicas do Brasil.

“Então falamos de um programa chamado hoza que trata diretamente de problemas sociais domésticos debilitantes que hoje recaem sobre o povo japonês – problemas como divórcio, suicídio, vício em drogas e depressão, que são tabus em conversas num país em que o caráter nacional praticamente enaltece a inexpressividade emocional.

“Liderado por um mediador que era funcionário do movimento Rissho Kosei-Kai, um grupo de pessoas sentava-se em círculo e partilhava abertamente os dilemas pessoais, que em geral, envolviam problemas familiares. Tomatsu-san e eu assistimos de fora do círculo e ouvimos mulheres com idades que variavam de 20 e poucos anos até 70 e muitos falarem sobre problemas no casamento, sobre o desrespeito dos filhos para com os mais velhos, sobre as dúvidas que tinham em relação à orientação e ao significado de suas vidas, e achei semelhante ao que os psicólogos ocidentais chamam de “terapia de grupo”.

“Tomatsu-san mais tarde disse que ficou atônito de ver “como eram comuns os problemas”, mas também “emocionado com o alívio que as pessoas sentiam só de conversar e de serem consoladas”. As pessoas por toda parte estão tão carentes de atenção e de consolo que a simples experiência de ter alguém que ouça o que elas dizem é um elixir para qualquer problema que tenham. O budismo socialmente relevante não precisa atacar os grandes problemas globais, o meio ambiente, a reforma prisional. A mesa da cozinha pode ser uma zona de guerra, também”.

- trechos do livro Buda ou desapego, de Perry Garfinkel, Editora Rocco, 2007, págs. 245, 246.

- veja o site www.rkk.org.br

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